quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Campos dos Goytacazes






                                                                                                                                 Cristiano Pluhar




O Município de Campos dos Goytacazes, localizado na atual Região Norte do Estado do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil, participou – e participa – efetivamente da História de nosso País.
 Ao analisar a apropriação portuguesa do atual território que hoje compõe a República Federativa do Brasil, ocorrida em 22 de Abril de 1500, observa-se um período de desinteresse por parte dos europeus das riquezas até então desconhecidas. Contudo, entre 1501 e 1504 expedições percorreram o litoral costeado pelo Oceano Atlântico com o intuito de mapear e observar as possibilidades exploratórias daquele território inóspito.
 Em 21 de Dezembro de 1501, dia de São Tomé, embarcações passam pela atual praia do Farol e nomeiam o local de Cabo de São Thomé em uma clara homenagem ao dia comemorativo do Santo.
 Após essa lida, quase trinta anos se passaram até que os intrusos colonizadores – crentes de sua autoridade frente aos povos não civilizados aos olhos metropolitanos – se interessassem pela Terra de Vera Cruz – o interesse se deu após a queda das atividades mercantis com os Países africanos e das bem sucedidas investidas dos franceses que entraram em contato com os índios Tamoios na busca do pau-brasil na atual Região Nordeste do Brasil.
 Sem grandes possibilidades de investimentos, os portugueses repetiram a tática administrativa realizada em suas investidas africanas: repartiram o território e o doaram a renomados e aventureiros portugueses no processo administrativo conhecido como Capitanias Hereditárias.
 Martim Afonso de Souza fez a primeira investida no local que chamou de São Vicente – atual litoral do Estado de São Paulo – em 1529 e contou com a ajuda de Pero de Góis da Silveira para o êxito colonizador. De retribuição, a Coroa portuguesa doa, em 10 de Março de 1534, a denominada Capitania de São Thomé ou Capitania da Parahyba do Sul a Pero de Góis para erguer uma Vila no território. A História contada em grande parte por memorialistas locais, para esse fato, apresenta algumas divergências; porém, nosso intuito não é fazer, neste momento, uma análise teórico-historiográfica, portanto, sem discussões, nos baseamos na obra de Augusto de Carvalho, Apontamentos para a História dos Campos dos Goytacazes, publicada em 1888, que afirma que Pero de Góis funda a Vila da Rainha na Região de São Francisco do Itabapoana em harmonia com os índios Goytacazes pertencentes ao grupo denominado Puris. Contudo, após alguns breves anos de sucesso, uma divergência com a liderança indígena local, destrói a Vila em uma longa batalha. Pero de Góis tenta reerguer a Vila, mas a dita selvageria indígena não permite que o fato se concretize. A Capitania da Parahyba do Sul é abandonada até que Gil de Góis – filho de Pero de Góis – recebe o repasse da doação por parte da Coroa Portuguesa e outra investida colonizadora é tentada: A Vila de Santa Catarina repete o fracasso das tentativas anteriores. Novo abandono.
 Em 1627, em retribuição aos responsáveis pela expulsão dos franceses e holandeses do Nordeste brasileiro e domesticação indígena na mesma Região, Sete Capitães recebem a Capitania que se inicia no atual Município de Macaé e termina em Itaperuna, divisa com a Capitania do Espírito Santo, dividindo entre si a Região. Nesse momento se inicia o primeiro ciclo econômico da Capitania da Parahyba do Sul: a criação de gado para abastecer a Capitania do Rio de Janeiro. O ponto forte, para a História, do período dos Sete Capitães na Capitania foi a produção, hoje inexistente graças ao descaso público, de um roteiro entitulado de Roteiro dos Sete Capitães que mostra um contato bem menos arredio com o índio Goytacá daquele reforçado – até hoje – pelos colonizadores crentes de uma evolução das espécies.
No ano de 1633, Portugal oficializa a doação das terras e, com gado comprado nas proximidades – Cabo Frio, para especificar – é construído o primeiro curral no atual território que compreende o Norte do Estado Fluminense. A Região que em momento algum despertara interesse agora é visada por Salvador Correia de Sá e Benevides, o primeiro Visconde de Asseca, que tem como aliado seu parente Salvador Correia de Sá, Governador do Rio de Janeiro. A Coroa não ousa desatender o pedido dos Asseca, pois a família carrega grande prestígio oriundo de suas atividades contra os franceses no Continente africano.
É o início de um período marcado pela exploração autoritária praticada através da cobrança exacerbada de impostos e roubo de terras através de demarcações que visavam o interesse próprio. A Coroa portuguesa fez algumas exigências para a entrega territorial: a fundação de duas Vilas e respectivas Igrejas. Assim, em 29 de Maio de 1677 a Vila de Sam Salvador, atual Campos dos Goytacazes e, logo após, em Junho do mesmo ano, funda-se Sam João da Praia, atual São João da Barra.






 Nessa época a religião estava presente na figura dos Jesuítas encarregados do papel de fabricar almas para os índios e, também, humanizá-los para compactuarem com a própria escravidão.
 A importância do local diversificou as atividades comerciais e aproveitou-se a ligação do Rio Paraíba do Sul com o Oceano Atlântico; a produção de Sam Salvador era escoada até o Porto de Sam João da Praia com destino principal, nos fins do século XVII, início do XVIII, à Bahia. Carne salgada, algodão, couro, queijo, feijão e milho eram os principais produtos exportados.
Todavia, a principal atividade agrícola foi a plantação de cana-de-açúcar. A produção se transformava em açúcar e, em 1785, segundo Couto Reys, em Descripção Geographica, Pulitica e Cronographica do Districto dos Campos Goiatacaz era fabricado por 236 engenhos que utilizavam a mão-de-obra escrava composta por mais de 12 mil negros.
Após o fim Domínio dos Asseca, no século XIX, as terras locais foram adquiridas por figuras da elite regional que intensificam a produção de açúcar – responsável pelo consumo interno do Império e o comércio escravagista que funcionou até 1888 – recordando que o tráfico de escravos foi proibido por Portugal em 1850; evidenciando-se assim um comércio humano ilegal durante os 38 anos seguintes até a abolição da escravidão através da Lei Áurea.
A relevância econômica da região era tamanha que, em 28 de Março de 1835, ocorre a elevação da Vila a categoria de Cidade, surgindo assim, o que hoje conhecemos por Campos dos Goytacazes. No mesmo século, a ferrovia traz a modernidade ao Município e escoa eficazmente a produção local.
Ao adentrar o século XX, a tão rentável plantação de cana-de-açúcar iniciou um processo de decadência que, mesmo acentuado, permaneceu – permanece – produzindo atrocidades como o trabalho escravo e infantil ou mesmo aquele quase regularizado dos bóias frias.
A salvação econômica da região se deu com os recursos vindos da captação de petróleo da riquíssima Bacia de Campos iniciada na recente década de 1970 do século passado.


Após esse breve passeio pela História regional onde frisamos os processos de colonização e econômicos de Campos dos Goytacazes, a questão cultural vem a tona demonstrando que todos os momentos exploratórios e cruéis com os humanos expulsos de suas origens, venceu barreiras destrutivas e uniu as diferentes etnias para fundar aqui uma identidade local inconfundível que hoje passa por um triste processo de esquecimento por parte dos campistas. O Jongo, tradicional dança africana serve para datas específicas que comemoram coisa alguma; as cavalhadas que simbolizam a expulsão dos mouros pelos portugueses são vistas com estranhamento; ou, ainda, o chuvisco que mostra que o açúcar que proporcionou tantos malefícios como citamos anteriormente, também, colocou Campos dos Goytacazes em relevância no cenário nacional.
A cultura local, graças ao processo de Globalização e a falta de sentimento de pertencimento é posta de lado proporcionando, desta forma, o falecimento da identidade, do sentido de pertencer e do conhecimento histórico que proporciona a preservação e valorização da História de Campos dos Goytacazes. Sabemos que a Globalização não pode ser a única condenada por esse desligamento histórico; a História das elites que aqui passaram e proporcionaram a exclusão social e a imbecil diferenciação racial que perdura até a atualidade – em uma demonstração clara de falta de desenvolvimento intelectual – devem ser responsabilizadas, contudo, não se pode justificar erros produzindo novos.
Além da História Política, Econômica, Arquitetônica, Urbanista, Social e Cultural do Município de Campos dos Goytacazes, do Estado do Rio de Janeiro e da República Federativa do Brasil, a disciplina Artes, aqui presente, visa o desenvolvimento de outras áreas do conhecimento – como a fotografia, pinturas, contextualização, teorias, processo de criação, representações – e servirá, freneticamente, para o desenvolvimento de conceitos sociais que, atualmente, estão acomodados em porões distantes da sociedade. A Cidadania – que, teoricamente, nos une através da obrigatoriedade do voto – real, ética – portanto, respeitadora do conterrâneo – necessita um processo de revisão, bem como a própria Ética e a Democracia. Outro apontamento proposto pelo projeto Jovens olhares sobre Campos dos Goytacazes histórico é a discussão e o conhecimento de conceitos exemplificados do Folclore, Folclore regional, Lenda e Tradição presentes no Município.
Portanto, o intuito do projeto Jovens olhares sobre Campos dos Goytacazes histórico visa reconstrução da identidade regional, bem como o reconhecimento do próprio indivíduo em seu local de origem.


Exposição fotográfica realizada no Instituto Profissional Laura Vicunha no mês de novembro de 2010 pelos educadores Cristiano Pluhar e Helton França.


Tema: Jovens olhares sobre Campos dos Goytacazes histórico.


Referências:


ALVES, Heloíza Manhães. A Sultana do Paraíba – Reformas urbanas e poder político em Campos dos Goytacazes 1890-1930. Rio de Janeiro: Arquivo Públicodo Estado do Rio de Janeiro, 2009.
AQUINO, Denise. OSCAR, Jacques. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais. 37ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da historiografia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997.
CARVALHO, Augusto de. Apontamentos parta a história da Capitania de S. Thomé. Campos: Silva, Carneiro & Comp., 1888.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
________. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
FEYDIT, Julio. Subsidios para a História dos Campos dos Goytacazes – Desde os tempos coloniaes até a Proclamação da Republica. Campos: Typographia de J. Alvarenga & Comp, 1900.
JENKINS, Keith. A História repensada. São Paulo: Contexto, 2001.
LAMEGO, Alberto. A Terra Goytacá – Á luz de documentos inéditos. Paris: L’edition D’ART, 1913.
________. A Terra Goytacá – Á luz de documentos inéditos. Tomo Segundo. Paris: L’edition D’ART, 1920.
________. A Terra Goytacá – Á luz de documentos inéditos. Tomo Quarto. Niterói: Oficinas Gráficas do “Diário Oficial”, 1941.
________. A Terra Goytacá – Á luz de documentos inéditos. Tomo Sexto. Niterói: Oficinas Gráficas do “Diário Oficial”, 1943.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. Campos. Capital do Estado do Rio. Campos: Edição do autor, 1930.
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: uma história concisa. 2ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Roteiro dos Sete Capitães. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: IHGB, 1893.
SILVA, José Carneiro da. Nova edição da Memoria Topographica e Historica sobre os Campos dos Goytacazes – Com uma noticia breve de suas produções e commercio. Rio de Janeiro: Typographia Leuzinger, 1907.
VIANNA, Helio. História do Brasil. 5ª. ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 1967.




EDUCAÇÃO COOPERATIVA SOLIDÁRIA


Prática de Valores na escola

A educação em valores, que se desenvolve na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas escolas, nas manifestações culturais, nos movimentos e nas organizações sociais, é uma questão fundamental da sociedade atual, imersa numa rede complexa de situações e fenômenos que exige, a cada dia, intervenções sistemáticas e planejadas dos profissionais da educação escolar.


Entre as diferentes ambiências humanas, a escola tem sido historicamente, a instituição escolhida pelo Estado e pela família como o melhor lugar para o ensino–aprendizagem dos valores, de modo a cumprir, em se tratando de educação para a vida em sociedade, a finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mundo do trabalho.
Sendo assim, caberá às instituições de ensino a missão, por excelência, de ensinar valores no âmbito do desenvolvimento moral dos educandos, através da seleção de conteúdos e metodologias que favoreça temas transversais (Justiça, Solidariedade, Ética, etc.) presentes em todas as matérias do currículo escolar, utilizando-se, para tanto, de projetos interdisciplinares de educação em valores aplicados em contextos determinados, fora e dentro da escola.
O que são, afinal, os valores? Que valores devem ser estudados e desenvolvidos na escola? Entre o que a escola ensina de valores, há coerência com o que a sociedade requer dos homens e das mulheres? Além de tentarmos responder as questões acima levantadas, pretendemos trazer exemplos e sugestões bem concretos para o trabalho do professor em sala de aula, para que não se limite a ensinar valores, mas a praticá-los e a se tornar, assim, um educador em valores.

A educação em valores é uma exigência da sociedade atual, inserida no mundo globalizado e marcada, no início deste século, por tantas mudanças tecnológicas e novos paradigmas políticos, culturais e educacionais, ora debatidos por diferentes agentes sociais. Temas como Ecologia, Educação Sexual, Direitos e Deveres do Cidadão, Ética na Política e na Vida Pública, a cada dia, são pautas de congressos, seminários, encontros internacionais, nacionais e locais, levando-nos a crer que o currículo escolar, sem dúvida, ficou defasado, ou melhor, não conseguiu acompanhar a velocidade de transformações do mundo pós-industrial.
No caso do Brasil, o currículo escolar realmente ficou e está defasado, se compararmos o que ensinamos com o que os Parâmetros Curriculares Nacionais, produzidos nos anos 90, requerem dos professores e alunos. No entanto, a razão de ser da escola, a de educar os alunos formalmente, não é uma tarefa descartada pela sociedade, apesar da influência da mídia eletrônica na formação cognitiva e de valores dos alunos. Também não perdeu tanto espaço assim para a sociedade da informação.
Por estar inserida em determinada comunidade, a escola traz para o seu interior os conflitos, as aflições e as mais diversas demandas comunitárias que levam professores, alunos e gestores escolares a criarem espaços, em seus projetos pedagógicos, para que as crianças e os adolescentes discutam e opinem sobre suas inquietações e aspirações pessoais e coletivas. É exatamente neste momento, quando os agentes educacionais criam espaços, ocasiões, fóruns para discussão sobre violência urbana, meio ambiente, paz, família, diversidade cultural, eqüidade de gênero e sociedade informatizada, que a educação em valores começa a ser desenhada e vivenciada como processo social que se desenvolve na escola.
Não é uma tarefa fácil abordar a questão dos valores na educação escolar. E sabemos o porquê. A Pedagogia tradicional levou-nos a acreditar (e sua influência ainda não desapareceu totalmente do meio escolar), por muitos séculos, que a principal tarefa da escola era a de transmitir conteúdos escolares. É um modelo pedagógico que não se enquadra mais às exigências do mundo moderno.
A educação escolar não se restringe mais, como no passado, à mera transmissão de conhecimentos, em que a atividade de ensinar era centrada no professor, detentor dos saberes, e no aluno, um mero recebedor da matéria. Na sociedade atual, com a ampliação das ambiências de formação escolar, o aluno passa a ser o centro do processo didático-pedagógico, e a educação escolar, agora, entendida como processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral do educando.
A educação em valores, embora tenha sido considerada, pelo menos até o século XIX, implicitamente, parte do currículo oculto das instituições de ensino, ganha terreno fértil, no ambiente escolar, a partir da segunda metade do século XX, quando a sociedade, através da legislação educacional (por exemplo, a chamada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), reconhece no professor, no aluno e na família sujeitos do processo de formação escolar.
Retomando a proposta de uma prática de valores na escola, diríamos que, para que a educação em valores seja uma realidade educacional, primeiro terá de passar por dois componentes do processo didático: o ensino e a instrução de valores. Para a Pedagogia, palavras como educação, ensino e instrução são elementos distintos na Didática, embora a maioria das pessoas as tomem como sinônimos. Vamos, então, às diferenças entre elas e observaremos suas implicações para uma educação em valores ou pedagogia de valores.

Quando nos referimos à educação em valores, estamos tomando essa expressão como processo social, no seio de uma determinada sociedade, que visa, sobretudo, através da escola, levar os educandos à assimilação dos valores que, explícita ou implicitamente, estão presentes, como já se disse, no conteúdo das matérias, nos procedimentos e nas atitudes dos professores, colegas de sala, pais de alunos e nas experiências humanas acumuladas no decorrer da história, tendo em vista a formação dos indivíduos enquanto cidadãos.
Se a escola deixa de cumprir o seu papel de educadora em valores, o sistema de referenciação ética de seus alunos estará limitado à convivência humana, que pode ser rica, em se tratando de vivências pessoais, mas podem estar também carregada de desvios de postura, atitudes de comportamento ou conduta. E mais: quando os valores não são bem formais ou sistematicamente ensinados, podem ser encarados pelos educandos, principalmente para aqueles que não os vivenciam, como simples conceitos ideais ou abstratos sejam por simulações de práticas sociais ou vivenciados no cotidiano.
Por isso, a escola não pode, pelo menos nos onze anos (oito anos de Ensino Fundamental e três anos de Ensino Médio, na atual estrutura da Educação Básica, em que as crianças e os jovens ficam a maior parte do dia na escola), deixar de ensinar explicitamente a prática de valores. Como diz o filósofo L. Althusser, em seu livro Aparelhos Ideológicos do Estado, a sociedade burguesa estabeleceu como seu aparelho de Estado n° 1 e, portanto, dominante, o aparelho escolar, que, na realidade, substitui o antigo aparelho ideológico de Estado dominante — a Igreja — em suas funções.
O trabalho explícito com a prática de valores pode advir das atividades docentes e curriculares no interior da sala de aula. Durante uma aula de Língua Portuguesa, por exemplo, o professor comprometido com a educação em valores não se limitará a indicar ou solicitar de seus alunos uma lista de palavras como justiça, dignidade e solidariedade, para exemplificar os substantivos abstratos, como assinalam as gramáticas escolares. Mais do que abstratas essas palavras, na sociedade, são categorias que se aplicam às práticas sociais, isto é, às atividades socialmente produzidas e, ao mesmo tempo, produtoras da existência social.
A noção de solidariedade, para os educadores em valores, não deve ser ensinada como simples substantivo feminino, reduzindo-a a um conceito gramatical ou metalingüístico, e sim como uma prática contra injustiça ou injúrias que outros estejam sofrendo, no âmbito político ou comunitário.
Há ensino de valores quando o professor, ao preparar suas aulas ou atividades curriculares, planeja, organiza, redireciona e avalia os temas transversais que não são, vale advertir, novas matérias, mas assuntos que atravessam as diferentes áreas do currículo escolar. Não há, portanto, necessariamente, aula, com dia e horário previamente estabelecidos para o ensino de valores. Ao contrário, o ensino de valores decorre de ocasiões que surgem ao acaso — como um flagrante de uma cola durante a realização de uma prova em sala de aula ou de uma briga entre alunos na hora do recreio — ou de ocasiões já previstas na proposta pedagógica para o bimestre ou semestre e, dependendo da sensibilização do professor, de um tema considerado relevante para a educação moral dos alunos.
Para que a educação em valores se realize, há, pois, necessidade de ser considerada no plano de ensino do professor, de logo, como objetivo geral da disciplina, em nível de transversalidade. Para que a prática de valores seja uma realidade, o educador terá de se organizar, didaticamente, para a instrução de valores, dentro e fora da sala de aula. Assim, só podemos dizer que um aluno aprendeu valores quando, após a ministração de conteúdos em sala, os professores, na escola, em diferentes ocasiões, e os pais, no lar, observam que seus alunos ou filhos não apenas apresentam melhor rendimento escolar, mas diminuíram os conflitos interpessoais, estão mais abertos à socialização e mais efetivamente assimilaram e integraram valores, atitudes e normas na prática social, de modo que os valores assimilados tenderão a acompanhá-los por toda a vida.
Em substância, podemos dizer que educamos em valores quando os alunos se fazem entender e entendem os demais colegas; aprendem a respeitar e a escutar o outro; aprendem a ser solidários, a ser tolerantes, a trabalhar em equipe, a compartilhar ou socializar o que sabem, a ganhar e a perder, a tomar decisões, enfim, é assim o resultado da educação em valores na escola: ajudar os alunos a se desenvolverem como pessoas humanas e fazer ser possível, visível ou real o desenvolvimento harmonioso de todas as qualidades do ser humano.
Que valores devem ser ensinados na escola
A educação em valores está presente em todas as disciplinas do currículo escolar. Para educar em valores, é necessário que o professor organize seu plano de ensino em atividades lúdicas, reflexivas e conceituais sobre temas transversais. Apontaremos, na tabela da página seguinte, dez temas transversais, por ordem alfabética, com seus conceitos básicos, que podem ser trabalhados na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.